Ainda ali há
Chamaram-lhe Carlos ao nascer, mas, já ali, lamentou-se
amargamente a possibilidade, existente e concreta, de que ele jamais
pudesse assinar o próprio nome. Sua mãe sempre foi inteligente. Era tão, mas tão inteligente,
que as pessoas costumavam referir-se a ela como "O Cérebro". Fez
diversos cursos, diversas teorias maravilhosas. E então, ele nasceu.
As particularidades do que poderia diferenciá-lo dos demais se
resumiam em duas palavras: retardamento mental. Outros nomes havia, é
claro, mais ou menos simpáticos, mas todos, invariavelmente, desaguavam
no mesmo resultado.
Ele nunca aprendeu a ler nem a escrever. Nunca conseguiu falar a ponto
de ser amplamente compreendido e exprimir conceitos complexos. Só bem tarde
aprendeu a andar e, ainda
assim, as pessoas o apontavam quando ele o fazia, disfarçando ou não um
sorriso.
De alguma forma, sempre soube que o que os outros lhe tentavam
ensinar era muito, muito simples, mas, da mesma maneira instintiva e
incoercível, ele soube que jamais, jamais conseguiria. Talvez por isso
nunca revidou quando o chamavam de burro, velada ou diretamente. Apenas
baixava a cabeça e chorava, não por raiva dos outros, mas por pena de
si mesmo.
Por que haveria de se chatear com os outros, quando, afinal, estavam
todos
certos? Ele era burro. Mas sua mãe o consolava, dizendo que, um dia,
sem dúvida, ele seria normal.
"A ciência avança dia após dia, meu filho" - dizia-lhe, com os olhos
húmidos "E, um dia, você será normal. Vamos descobrir o que fazer para
seu cérebro aprender a funcionar, e então você será como todos os outros
meninos."
O garoto ouvia isso e esperava, ansioso, pelo dia em que poderia ser
normal, considerado, acolhido e respeitado.
E enquanto esse dia não
chegava, a mãe dele estudava. Especializou-se no problema do filho, na
sua
doença, Leu pilhas de livros até que ele fizesse seis anos de idade.
Pouco depois, creu que os dados para convertê-lo em uma pessoa normal estariam em uma
universidade longe, bem longe... E ela precisava ir lá. Precisava
encontrar uma forma de tornar normal seu filho único e todos os
retardados do mundo. Ela era um cérebro. Conseguiria.
Para tanto, procurou um lugar muito seguro, higiênico e especializado
em que
pudesse deixá-lo, enquanto estivesse pesquisando.
Carlos tinha quase sete
anos, naquela ocasião.
Lembrou-se para sempre de que a vira chorar muito, mas mal entendia o que
estava acontecendo. Ficou olhando seu rosto molhado, enquanto a ouvia
falar
e ia entendendo tudo lentamente, muito lentamente... E quando ela se virou,
chorando, deu-lhe adeus.
Ela foi e seu filho demorou para entender que não pretendia voltar
logo. Só entendeu quando o Natal o encontrou sozinho no lar.
Todos tinham um lugar aonde ir,
menos ele , e isso lhe pareceu estranho. Depois dele , é verdade, vários
outros chegaram, todos de famílias abastadas que os confiavam a pessoas
especializadas, para, dentre outras coisas, não precisarem vir buscá-los
para o Natal.
Porém o tempo foi passando e ela nunca voltava, o que levou seu
filho a, gradativamente, esquecer-se dela.
No Lar, aprendeu muitas coisas, como a enfileirar objetos pela
cor e pelo tamanho. Era tudo limpo e bom, e
tinha amigos mais ou menos "anormais" como ele. Eles iam e vinham.
Alguns morriam; outros iam embora, mas o mais notável é que ali a vida
nunca mudava, acontecesse o que acontecesse.
Então ele cresceu. Seu corpo tornou-se o de um homem, mas a opinião
que nutri a a seu respeito não se alterou com o passar dos anos, embora
não costumasse filosofar longamente sobre o assunto.
Ele não lembrou, posteriormente, quando ela chegou lá, mas jamais
esqueceu quando percebeu sua
existência.
Estava sentado no pátio, quieto, quando ela chegou. Não
disse nada, já que ela não podia falar. Ficou ali sentada perto dele,
enquanto permanecia igualmente sentado e parado. Quando não se tem nada para
se esperar e nada em que se pensar, que o tempo passa igual: uniforme e
indistinto. É quando dez minutos e duas horas têm uma medida mais ou
menos parecida na memória, e as coisas perdem o contorno da
realidade.
Passou o
tempo e ela se levantou, em silêncio, e foi embora. Ele retornou para
suas
atividades. No dia seguinte, quando estava no mesmo ponto, ela
chegou. Ficou sentada , do mesmo jeito. Não disse nada,
mas, na mente do outro, ficou claro que ela o tinha
escolhido para com ela compartilhar seus tempos iguais.
Os dias passavam e ela continuava vindo, sempre à mesma hora, até que
começou também a aparecer nos recreios.
Quando um menino foi rude com ele, interpôs-se
entre nós, silenciosa. E como ela fosse gorda, muito gorda, o agressor se afastou, batendo
os pés com força no piso cimentado. Ele sorriu-lhe, em agradecimento, mas ela apenas
continuou por perto.
Com o tempo, tornou-se sombra dele. Sempre que podia, estava
por perto . Um dia, uma enfermeira falou:
- Viu que a Carolina gosta de ficar perto de você, Carlos Vitor?
Assim descobriu que sua amiga se chamava Carolina. Era um nome bonito
para ela, pensou.... E pensou que ela era anormal, como ele próprio.
Seria mais ou menos anormal que ele - perguntava-se.
Haveria, em algum lugar, um serr apto a estabelecer quão anormais
os outros seriam?
O tempo foi passando, e Carolina sempre estava por perto. E embora
não fosse bonita e lhe parecesse desajeitada, nela havia uma beleza
indefinível.
Passavam-se os dias, os meses, os
anos, e ela como que se tornava suportável, bonita, bela e, depois de
um tempo, indiscutivelmente linda.
As pessoas não entendiam como ela, que nunca se interessara por nada
de colorido, bonito ou barulhento, de repente saíra do seu mundo para
estar perto dele, sem que nenhum evento parecesse acinalar esta
aproximação. As pessoas igualmente não entendiam porque perto
dela ele ficava mais calmo, menos irrequieto, mais atento, até.
Um dia, ele decidiu que diria a sua amiga quanto a achava bonita. Mas
como faria isso? Tentou falar-lhe, todavia, mostrou-se indiferente. É
verdade que o olhou, mas seus olhos não pareceram captar o que lhe
diziam,
o que estava acontecendo. Falou devagar, separando bem os sons, mas ela
não demonstrou entendimento. Então ele olhou-a, irritado, e passou a mão
desajeitadamente pelo seu rosto áspero. Ela recuou, assustada, mas seu
amigo não esbossou o menor gesto para afastar-se. Ela entendera tudo errado. Precisava entender certo, porque
para ele, pior que não conseguir dizer nada, seria se ela pensasse que
tudo aquilo quereria dizer
outra coisa.
Então por isso ele tentou novamente. Olhou-a, sorrindo, e tocou
seu rosto, sem parar de sorrir. Ela não recuou. E, desde aquele dia,
tocavam-se no rosto , durante o recreio.
Era bom. O toque dela o fazia lembrar de coisas longe, cujos nomes
ele ignorava.
Os anos foram passando. Ninguém os ia ver, mas isso importava
cada vez menos . Ela estava lá, sempre silenciosa,
amiga e presente. E quando ela ficava doente e precisava ir para a enfermaria, era
seu amigo quem
fazia carinho no seu rosto, enquanto a febre não passava. E quando ela
chorava sem que aparentemente nenhum dos dois soubesse o motivo, ele
tocava suas mãos suavemente
e isso deveria ser bom de alguma forma, porque ela
parava de chorar, às vezes, ou se aproximava, ainda que
continuasse chorando.
Todas essas coisas tinham nomes complicados que eles não sabiam dizer,
entretanto, na medida em que ficavam perto um do outro, não saber
exprimir-se adequadamente ou nomear os sentimentos perdia a importância.
A vida era boa porque estavam juntos, e isso bastava para ambos.
Havia aulas sobre muitos assuntos, e ele aprendia umas coisas e outras, não, e as
coisas que não podia aprender deixaram de ser frustrações para
tornarem-se, simplesmente, coisas que ele não conseguia
aprender.
Um dia, estava chovendo. Choveu por muito tempo e eles não saimos ao
pátio. Então, quando saíram, Carolina pegou a mão dele e fomos andando,
lentamente, até o jardim. Ele não podia andar muito rápido, e ela não via
motivo para correr. Era tudo devagar e suave, com o cheiro da terra
molhada e o ruído dos passarinhos. O céu desanuviara-se afinal, e o Sol
ressurgia, brilhante e morno, derramando luz e vida pelas flores
plantadas por alguns dos
internos.
De repente olhou para Carolina, e ela lhe pareceu tão bonita quanto
aquelas flores. Para ele, de súbito, ela não era a "anormal", a "retardada", mas
tão harmoniosa e perfeita quanto qualquer uma daquelas flores... E ele não estava
sozinho, nem em uma instituição para sempre, sem família. Ele era o homem
mais feliz do mundo, porque Carolina era sua companhia, e havia Sol,
comida, pessoas e aulas... E flores que eram tão bonitas quanto sua
melhor amiga.
Antes, talvez ele desejasse ser "normal" para dizer de forma delicada e
gentil o fato de que descobrira que tinha uma amiga que era tão linda quanto
a paizagem em torno, ou desejaria que ela pudesse ouvi-lo quando ele lhe
dissesse isso da forma que pudesse; agora, porém, tudo estava tão certo,
tão bom e perfeito, que nada daquilo fazia falta.
Ele inclinou-se para retirar uma das flores de sua haste. Depois
tocou
o rosto de Carolina suavemente, enquanto a expressão indecifrável que
normalmente usava, suavizou-se por
um milésimo de segundo, o que pareceria a um observador atento ser a sombra de um sorriso.
Entregou-lhe a flor e segurou sua mão, enquanto caminhavam
por toda aquela beleza perfeita.
Ela segurou a flor e continuaram seu caminho. As
professoras os olhavam e comentavam, baixinho, qualquer coisa a
respeito deles.
No outro intervalo, Carolina lhe trouxe um papel amarrotado e, no
centro, uma coisa que lembrava vagamente um coração. Ele lhe sorriu,
quase sem perceber, e segurou sua
mão, para que fossem ao jardim. E foram ao jardim. E todos os recreios
passaram no jardim, por tantos anos, que nem souberam contar.
Com o tempo, ele foi se tornando um pouco mais esperto, mas não
prestava tanta atenção nisso. O fato é que, duas semanas atrás, fez
vinte e seis anos e sua mãe retornou.
Entrou envelhecida, com os óculos ainda maiores, o que poderia
ser devido ao tamanho das letras que ela tinha lido todo aquele tempo.
Chamou-o.
Carolina quis acompanhá-lo, mas a mãe dele não lhe deu atenção e uma
enfermeira a tentou afastar, de qualquer modo.
A recém-chegada o chamou "filho", disse como ele estava bonito e crescido e
começou a falar de pesquisas, de teses, de cursos que fizera na França e
no Canadá, e sobre como haviam drogas promissoras, com células
que lhe restaurariam a saúde mental e a normalidade nunca vivenciada
antes.
- Você vai ser normal, meu filho! Entende isso?
Ele olhou Carolina, à distância que chorava agora, e negou com a
cabeça.
- Meu filho, você vai ser esperto como os outros rapazes. Vai
aprender a se expressar melhor, a ler, a escrever! Terá amigos, emprego,
uma companheira, uma casa! Poderá compreender as coisas, ler livros! Livros,
Carlinhos! Livros! Já pensou que maravilha é tudo isso? Você vai ser
normal, meu filho!
- Eu sou normal. - Disse, sem querer chateá-la.
Ao som dessas palavras, ela interrompeu-se e começou a chorar.
- Oh, filho... O que eu fiz com você? Claro que convivendo com essas
pessoas, você acabaria acreditando que... Que não há nada de errado com você,
meu amor.... Mas você não consegue ler... Mal consegue andar... Não é
esperto bastante para assinar seu nome, meu bem. Não, filho, você não é
normal, meu querido, mas poderá ficar.
Duas enfermeiras juntaram-se àquela que já estava com Carolina,
que agora chorava a uma
distância ainda maior. Ele não soube para onde iam levá-la, então
a apressou-se
descobrir. Começou a segui-los devagar, do jeito que ele sabia, enquanto
sua mãe vinha atrás dele, devagar também, obrigada a seguir o
ritmo do filho, pela primeira vez na vida..
Entraram na enfermaria. Carolina ofegava, chorosa, enquanto era
deitada na cama. Falavam algo do seu coração, e ele naturalmente pensei
no coração que ela lhe desenhara .
E enquanto os médicos trabalhavam a uma curta distância, ele se
aproximou. Tocou seu rosto de leve e ela pareceu percebê-lo,
ainda que não parasse
de chorar. Então ele se ajoelhou, para ficar com ela face a face.
Limitou-se a tocar suas mãos, colocando-as perto do rosto. Olhou
para ela, que nunca antes lhe parecera tão triste e bonita...
Ouvia alguém perguntar se havia algum parente dela, enquanto uma das
pedagogas dizia que suas necessidades eram providas através de um banco
que enviava dinheiro, porque seus pais não tinham tempo para fazê-lo.
Carolina era mais velha que ele. E olhando-se para ela e para a
recém-chegada,
percebia-se que podiam ser de idades próximas. Carolina agora tocava
minha mão quase por acaso , cada vez mais docemente. Era terna e fresca a
tardinha, e algumas pessoas que estavam só assistindo foram mandadas
embora.
E então pediram a ele que se afastasse, porque a enferma precisaria ser
examinada por uns médicos, em um hospital. Ele chorou e gritou, como não
fazia há anos. Queria ficar com Carolina. E enquanto a conduziam, sobre
uma maca, para fora, ele gritava seu nome, chutando com força a porta
que se fechara, nem importando que ela não
pudesse ouvir e jamais pudesse lhe responder, não deixando de observar,
através da janela,
que o vulto sobre a maca
ficava cada vez mais pequenininho, até não passar de um borrão
recortado contra o céu límpido da tarde que caía até, finalmente, sumir.
Sem proveito sua mãe explicava que Carolina era retardada, surda e
muda e que, portanto, sua percepção cognitiva era
limitadíssima. Ele não entendia a maior parte daquelas palavras, e não
conseguia entender o sentido do que percebia . No que dizia respeito a
ele, Carolina sempre compreendera a
realidade. Sempre, mesmo que olhasse para o nada, algumas vezes.
Então não pôde mais gritar e chutar a porta. Sentou-se no chão, em
silêncio, enquanto sua mãe lhe acariciava as mãos como Carolina fizera
tantas e tantas vezes.
Mas o engraçado é que, mesmo o gesto sendo igual, não era igual... E ele
não atinava, não compreendia porque era diferente.
De noite, sua mãe colocou-o em um táxi e o levou para algo que
ela disse ser um hotel. Era uma casa grande e vermelha com uma escada e
muitos quartos. Ficaram em um deles, enquanto a mãe lia livros e ele
ficava parado, sem vontade de comer, nem de chorar, nem de gritar,
apenas conseguindo chamar por Carolina, como se aquilo pudesse fazê-la
entrar pela porta do quarto. E
mesmo sabendo que aquela não era mais a porta do Lar, uma vontade imensa
de voltar a chutar avolumava-se nele, porque, àquela noite, não poderia
ficar com sua amiga na enfermaria.
No dia seguinte, voltaram ao lugar que o recebera por tantos anos, provavelmente porque
ele passara toda a
noite sem dormir, chamando por Carolina. Então disseram que ela
tinha uma deficiência cardíaca que precisava de operação urgente, mas
que o Lar não poderia arcar, porque o dinheiro que enviavam para cuidar
dela não cobria tanto. Apenas para a mãe do rapaz ajuntaram que
souberam do falecimento dos pais dela fazia dois anos.
Carolina tinha irmãos, claro, mas eles não
acharam aprazível desfazerem-se de uma parte de suas fortunas para
tentar salvar uma irmã alheia à realidade que nunca viram e que jamais
poderia lhes agradecer a ajuda misericordiosa.
Por isso ela foi trazida para o Lar e deixada lá, para morrer dentro
de algumas horas. Porque gritasse muito, permitiram-lhe vê-la. Uma das
pedagogas teve a idéia de trazer uma flor do jardim. Seu amigo
entregou-a para
a amiga , mas os dedos não pressionaram a haste tenra. Em vez disso, sua
mão caiu, flácida e indiferente, sobre os lençóis imaculados.
Ainda assim, atreveu-ce a tocar-lhe o rosto de leve, olhando-lhe os olhos meio
fechados, nitidamente opacos. As pessoas pareciam ter pena daquele
pobre rapaz,
por estar tão abatido pela doença de uma pessoa que, segundo eles,
nunca estivera junto deles, realmente, cujo cérebro jamais fora capaz de
experimentar sentimentos minimamente elaborados. Mas o mais estranho é que, mesmo agora,
para aquele que fizera tanta questão de estar por perto,
ela parecia, sem dúvida, estar presente.
E então recordou dos anos que passaram, caminhando de mãos dadas
pelo jardim, sentindo-se as pessoas mais felizes do mundo, porque havia Sol,
uma mão para segurar e aulas todos os dias.
E então tiveram que levá-la, porque deixou de respirar.
Explicaram que ela tinha morrido. Carlos olhou aquilo sem entender. Os
outros seres humanos podiam morrer, é verdade, mas nunca a pessoa que
lhe fez
entender que ele podia ser normal.
Mas as pessoas não mudaram de idéia sobre a morte de Carolina por
mais que ele tornasse a gritar e chutar as portas e os móveis, de modo que ela
foi posta embaixo da terra, ainda com a flor entre os dedos.
Agora a mãe dele colocou-o em um Programa de incentivo em outro
país, e não entende muito bem porque nada o consegue estimular. Mais
que nunca, ele não entende as coisas ao seu redor, ou o que as pessoas
pensam e sentem. Dentro dele m existe apenas lugar para poucos
pensamentos: ela
teria morrido porque pensou que ele não seria mais seu amigo? Todos
diziam que Carolina era doente, mas, até aquele dia, ela sempre estivera
viva, mesmo que precisasse ir para a enfermaria tantas vezes... E havia
uma outra pergunta que ele não conseguia concatenar, mas que,
indubitavelmente, estava ali: será que os irmãos da sua amiga eram normais como
queriam que ele fosse? E uma última pergunta, que ele preferia não
perguntar: ela ainda estaria com ele se ele é quem tivesse colhido aquela
flor que ela morreu segurando?
De qualquer modo, jamais expressou para ninguém qualquer dessas
perguntas, sequer alguma idéia mais complexa.
Na verdade, nunca mais
falou, ou se interessou por entender as coisas. De repente, ser ou não
ser normal não importava, nem viver, nem respirar ou existir, mesmo que
houvesse Sol, comida e aulas todos os dias. Foi só ali que ele
entendeu
que o que fazia que se sentisse a pessoa mais normal e feliz do mundo não
era a existência de Sol, comida, aulas ou mesmo do jardim, mas a
presença silenciosa e imutável de Carolina.
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